Resumo
Depois da Segunda Guerra Mundial, era tempo de pensar nos danos causados nas populações e nas cidades. Alguns artistas, arquitectos e pensadores, ao levarem para as suas mesas de trabalho o tema social, contribuíram para a revolução cultural, que acontecera em toda a Europa. Esta dissertação explora o discurso que a arquitectura e o cinema partilham sobre as cidades, sua relação simbiótica e suas consequências.
A contextualização histórica e factual divide o trabalho em duas partes, sendo que, a primeira lança as bases para o debate que a segunda sugere: a forma como a cidade foi sendo representada ao longo do tempo, o discurso arquitectónico de Alison e Peter Smithson que se relaciona com o cinema e os habitantes da urbe e, introduzindo os casos de estudo, o contexto português na nova corrente cinematográfica que surgiria, nos anos 60, fruto de um longo período de saturação da censura.
Os filmes do Novo Cinema português, tal como noutras correntes cinematográficas europeias dos anos 50 e 60, mostraram as ruas, as suas gentes, num registo quase
documental e etnográfico. A cidade de Lisboa foi a mais usada para mostrar Portugal de 1962 até 1974, destacando-se um conjunto de três capítulos, cada um referente a uma zona
da cidade. Dom Roberto, filme ainda ligado aos do “cinema de ouro” mas já numa outra vertente mais denunciadora, mostra as vivências num pátio lisboeta; Belarmino, a história de um boxeur, que vive intensamente o Rossio e os Restauradores, seus cafés, suas boîtes e o ginásio; Os Verdes Anos, O Cerco, O Recado, O Mal-amado e Meus Amigos, para além da zona de urbanismo e de construção moderna que crescia na periferia da cidade, manifestam o sentimento que os personagens tinham sobre o centro lisboeta.
Abstract
After World War II, it was time to think about the damages caused to populations and cities in Europe. Artists, architects and thinkers started to think about social issues, contributing to
the cultural revolution that was taking place throughout the continent. This thesis explores the permanent dialogue that architecture and cinema have about cities, their symbiotic
relation and its consequences.
The historical and factual contexts divide the work into two parts; the first one builds up the foundation for the debate that the second suggests: the way that the city has been represented over time, the architectonic discourse of Alison and Peter Smithson in relation to cinema and the inhabitants of the city and, introducing the study cases, the Portuguese context on the new film current that would emerge in the ‘60s, as a result of a long, saturated period of censorship.
The Portuguese New Cinema’s movies, like any other European cinematographic movements of the 50s’ and 60s’, show the streets and people, as an almost documental and ethnographic
registry. It was the city of Lisbon that was widely used to promote Portugal from 1962 until 1974, highlighting a set of three chapters, each referring to a different part of the town. Dom Roberto, a film that is still attached to the “golden cinema” decade but already in a different, more denouncing aspect, shows the experiences in a Lisbon courtyard; Belarmino, the story of a boxeur who lives the Rossio and Restauradores neighborhoods intensely: its cafes, its boîtes and the gym; Os Verdes Anos, O Cerco, O Recado, O Mal-amado and Meus Amigos,
which depict what the inhabitants of the peripheries, surrounded by modern buildings, thought and felt about Lisbon’s city centre.