BASE DE DADOS

Título da Investigação
Filosofia do Cinema: processos de criação de uma nova imagem do pensamento
Tipo
Doutoramento
Autor(es)
Susana Isabel Rainho Viegas
Instituição
Universidade Nova de Lisboa
Orientador
José Nuno Gil
Co-Orientador 1
Dina Mendonça
Ano
2012
Resumo
A presente dissertação analisa a relação entre filosofia e cinema segundo o ponto de vista deleuziano da criação de uma nova imagem do pensamento, crítica à imagem dogmática clássica. Com o objectivo de analisar as considerações filosóficas de Gilles Deleuze sobre o cinema de A Imagem-movimento (1983) e A Imagem-tempo (1985), tendo como ponto de partida o movimento reversível entre cinema e filosofia, defendemos a hipótese de o cinema ter uma função filosófica definida no seu pensamento quando relacionado com um sistema filosófico já fundamentado, circunscrito a Diferença e Repetição (1968). Baseando-se na semiótica de Charles S. Peirce e na ontologia materialista de Henri Bergson, Deleuze cria os conceitos filosóficos de imagem-movimento e de imagem-tempo a partir da materialidade das imagens cinematográficas e segundo uma crítica da tradição filosófica relativamente aos estudos sobre o movimento. Deleuze defende a primazia da dimensão temporal; uma concepção de Tempo não decalcado da dimensão espacial; e uma ideia de consciência como algo que está no tempo. Esta reavaliação culmina no conceito de imagem-cristal, o elemento noo-onto-cinematográfico da sua filosofia-cinema. Assim, a questão sobre o que é o cinema leva-nos a uma outra sobre o que é a filosofia. Que tipos de interferências ocorrem entre cinema e filosofia? A filosofia definida como criação conceptual é o fio condutor para a análise de duas ligações que julgamos essenciais e objecto de alguns equívocos: por um lado, a relação entre cinema e filosofia e, por outro, entre filosofar e pensar. Prosseguindo a questão heideggeriana sobre o que nos faz pensar, localizamos no não-filosófico a “origem” não essencialista da própria filosofia: a partir de um encontro paradoxalmente acidental e necessário, que tem no cinema a correspondência imagem-pensamento e imagem-movimento. Este movimento reversível entre imagens cinematográficas e conceitos filosóficos exige uma revisão do platonismo e da concepção da relação entre imagem e pensamento, bem como uma refutação da analogia entre mente e cinema. Segundo esta analogia, o cinema é compreendido como uma cópia dos processos mentais na sua função de passividade, inércia e manipulação. A reacção a este automatismo espiritual corresponderá, paralelamente, a uma luta contra o cliché da imagem e o fascismo da imagem dogmática. Deste modo, a noologia deleuziana estabelece uma nova imagem do pensamento enquanto nova teoria da imagem, da qual sobressaem dois elementos distintos: a intervenção do não-filosófico como impoder e o domínio de uma lógica paradoxal da síntese disjuntiva. Deste modo, a presente dissertação esclarece alguns dos equívocos estabelecidos relativamente à identidade entre o cinema e a filosofia, nomeadamente a ideia que predomina numa certa tendência da filosofia do cinema hoje, de que o cinema filosofa. Isto é, defendo que o cinema tem a capacidade de nos dar os imprescindíveis elementos não-filosóficos que nos fazem pensar e que o cinema tem um papel prático na criação conceptual, sugerindo assim uma afinidade entre imagem cinematográfica e conceito filosófico que se traduz na expressão filosófica de pensar o cinema pelo cinema.
Abstract
This thesis proposes to explore the possibility of a Philosophy of Film through processes of creation of a new image of thought, critic of the classic dogmatic image. My aim is to trace Gilles Deleuze’s philosophical considerations on cinema, expressed mainly in The Movement-Image (1983) and The Time-Image (1985), having as a starting point the reversible movement that goes from cinema to philosophy. According to my hypothesis, cinema has a philosophical function in his thought when related with an already founded philosophical system, like that circumscribed in Difference and Repetition (1968). Drawing upon Charles S. Peirce’s semiotics and Henri Bergson’s materialist ontology, Deleuze creates the philosophical concepts of the movement-image and the time-image from the materiality of cinematic images, and also reviews the philosophical tradition of studies on movement. Deleuze argues for a primacy of the temporal dimension; for a conception of Time not copied from the spatial dimension; and for an idea of consciousness as something that is in time. This reassessment culminates in the concept of the crystal-image, the noo-onto-cinematic element of a philosophy-cinema. Thus, the question “What is cinema?” leads us to another: “What is philosophy?” What different kinds of interferences occur between cinema and philosophy? Philosophy defined as a conceptual creation is our link to the analysis of two connections that we consider essential and subject to common misconceptions: first, the relationship between cinema and philosophy and, secondly, the relationship between philosophizing and thinking. Pursuing the Heideggerian question of what makes us think, one identifies the non-essentialist “origin” of philosophy itself in non-philosophy: from an accidental and paradoxically needed encounter that has in cinema the perfect match of thought-image and movement-image. This reversible movement between cinematic images and philosophical concepts demands a revision of Platonism and of the conception of the relationship between image and thought, as well as a refutation of the analogy between mind and cinema. According to this analogy, cinema is understood as a copy of mental processes in its role connected with passivity, inertia, and manipulation. The reaction to this spiritual automatism is parallel to a struggle against the cliché of an image and the fascism of a dogmatic image. Thus, the Deleuzian noology establishes a new image of thought as a new theory of the image, in which two different elements stand out: the intervention of the non-philosophical as powerlessness and constraint and the domain of a paradoxical logic of the disjunctive synthesis. In this way this thesis clarifies some of the misconceptions regarding the identity of film and philosophy, such as the prevailing idea in a certain tendency of philosophy of film today that cinema philosophizes. That is, I argue that cinema has the ability to give us the essential non-philosophical elements that make us think and that cinema has a practical role in conceptual creation, thereby suggesting an affinity between the cinematic image and the philosophical image that has a philosophical expression in thinking in cinema through cinema.
Palavras-chave 1
Deleuze
Palavras-chave 2
Bergson
Palavras-chave 3
Filosofia do Cinema
Palavras-chave 4
Noologia
Palavras-chave 5
Tempo
Keywords 1
Deleuze
Keywords 2
Bergson
Keywords 3
Philosophy of Film
Keywords 4
Noology
Keywords 5
Time
Publicação
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